terça-feira, 19 de maio de 2009

A exclusão social e a insegurança dos cidadãos

Se algum dia encontrarmos uma sociedade unida, sem classes, abraçando a diferença pela igualdade, sem privilégios, sem injustiça, sem criminalidade – enfim, perfeita – é porque o despertador está para tocar, e lá começa mais um dia. De facto é optimista ao ponto de ser ridículo achar que o clima de egoísmo e o jogo de interesses económicos alguma vez há de abrandar de forma a abrir portas a uma sociedade mais igual e mais justa.
Enquanto uns constroem condomínios de luxo no Restelo, ou ainda podem contratar arquitectos de renome para projectar as suas visões extravagantes, outros nada mais têm para ostentar que uma caixa de cartão a que chama de cama, casa, cobertor – conforme seja a sua utilidade no momento. Estas assimetrias, com um fosso que novamente vem crescendo, fomenta um clima de insegurança.
Quando os que menos têm se vêem renegados a bairros sociais, com condições sanitários absurdas, construções precárias, e, em todas as esquinas, situações perigosas, o sentimento não é de gratificação. A falta de oportunidades que estas pessoas enfrentam na vida – o ciclo de pobreza, dificilmente evitado –, pode muitas vezes contribuir para que nem se considere que o trabalho legítimo possa compensar. Recorre-se à criminalidade – furto, tráfico de drogas, prostituição, etc – para a sobrevivência. Rege a lei do mais forte, a lei da selva.
Olhando para esta fracção da população não é difícil entender que é maioritariamente constituído pelas várias minorias étnicas, culturais e religiosas e, cada vez mais, pelo grosso dos desempregados e trabalhadores em condições precárias, ou de salário mínimo. É-lhes tão difícil afastar-se do estigma de “proveniente de bairro social” que nasce até por vezes um desprezo pelas classes média e alta – são os betos! Criam-se guetos e fomentam-se ódios, especialmente entre os mais jovens. Agrava-se a situação pela falta de acesso à educação, ou pelo menos à boa educação – escolas sobrelotadas, com professores que não conseguem tomar conta de tantas crianças, cada qual com seu problema, seguidas de escolas secundárias pouco inspiradoras que aceitam a situação deles sem nada fazer para a mudar… e o mundo quase inacessível da Universidade. A desistência do ensino de tantos jovens agrava o problema e aprofunda o ciclo de pobreza, que leva cada vez mais jovens a ligar-se aos mundos da criminalidade.
Come se não fosse desafio suficiente, também as leis não ajudam. Por exemplo no caso dos imigrantes, o difícil processo de nacionalização põe até os filhos, nascidos em Portugal, em situações complicadas e confusas, que não permitem a ascensão social. Mais ainda, a falta de polícias e manutenção de ordem nos bairros sociais (há pouquíssimas esquadras em áreas tão problemáticas como Camarate), agrava o problema permitindo o desenvolvimento de grupos violentos e criminosos de tráficos de droga ou furtos, agravando a sensação de gueto. Até a lei está disposta para a exclusão social – e se calhar ainda serão os mecanismos do Estado que mais acentuam a inevitabilidade de exclusão social, geração após geração, dos mesmos grupos.
Do cimo da sociedade, apenas assim os mais ricos poderão sentir os efeitos da exclusão social – quando os seus carros são roubados, as suas casas assaltadas… ou, verdade seja dita, também quando usufruem de outros “serviços”.
A verdade é que a culpa nem é só dos ricos empresários, nem só dos políticos apáticos, nem só da resignação dos excluídos com uma meia vida de crime – a culpa é de toda a sociedade. Se todos fizéssemos um esforço - ricos, classe média, políticos, empobrecidos – então se calhar conseguíssemos atenuar estas assimetrias tão graves; mas sem ilusões utópicas de uma sociedade perfeita… apenas mais pacífica e igual.

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